sexta-feira, 27 de novembro de 2009

UMA LEMBRANÇA DO PECADO



Sibele. Nunca vou me esquecer dela. 21 anos e um corpo perfeito. E a boca... que boca! Ela era do interior, acho que de Pelotas. Ou Rio Grande. Não lembro!!!
Aquela morena de pele bronzeada, olhos castanho-esverdeados, era noiva de um professor de educação física e lutador de boxe. Eu não o conhecia, só sabia que era negro. E grande, pelo que comentavam. Também nem queria conhecê-lo, até porque nunca gostei muito de boxe.
Não é que eu tivesse medo, mas na realidade eu tinha verdadeiro pavor em pensar na possibilidade daquele Evander Holyfield dos pampas descobrir o que eu pensava de sua noiva, afinal eles iriam casar depois de fevereiro, e aquilo não passaria de uma paixão platônica de verão; para mim, porque para ela eu seria, no máximo, uma aventura que não aconteceu, uma amizade que mal começou, um pedaço da memória que se apagaria com o tempo em seu álbum de lembranças.
E tudo aconteceu assim:
- Oi, desce!
- Quem fala?, perguntei ao interfone.
- Sou eu, a Si. Desce rápido!!!
- Hummm... já vou.
Meio nervoso, olhei-me no espelho e não gostei muito do que vi. Barba mal-feita, calça de moletom cinza um pouco larga e uma camiseta branca, uma roupa daquele tipo “bem confortável”, que a gente escolhe para dormir, para usar só em casa, ou no máximo para pegar o jornal no corredor. Ou seja, não queria que ela me visse assim, mas senti pela voz que estava com pressa. E que pretensão a minha, afinal de contas ela estava noiva, eu tinha sido apresentado àquele espetáculo de mulher havia dois dias, e tinha a nítida impressão que ela não sabia nem meu nome.
Quando cheguei na frente do prédio, ela estava com a porta do carro aberta, um pé no chão e outro sob a soleira. Usava um short jeans e uma blusa branca, deixando à mostra aquela barriga perfeita que mais parecia uma moldura dourada para o umbigo. Tive que fazer uma força sobre-humana para não ficar olhando estático para o piercing que pendia sobre ele, até que ela me perguntou o que eu iria fazer à noite. Olhei para o relógio e vi que já eram quase 19 horas.
- Por quê?, perguntei.
- Olha, Max...
E o sorriso aflorou em meu rosto. Ela definitivamente sabia o meu nome. E continou:
- Queria te convidar para o meu aniversário. E não vou mentir. Gostei do teu jeito, te achei um cara legal, mas sou noiva e amo meu noivo. Por isso, não vou fazer nenhuma loucura! Mas eu estou indo amanhã para casa, encontrar com ele, e talvez nunca mais te veja. E não consigo parar de pensar em ti, no teu cheiro, enfim, depois que o Cícero nos apresentou – Cícero era meu amigo e primo dela, e naquela hora eu só pensava: “Grande Cícero!!!” – eu fiquei meio confusa. Mas queria...
E não deixei ela terminar. Minha boca apertou tão forte a dela que depois de um tempo a beijando – como se fosse a língua mais macia que a minha já tinha encostado –, comecei a sufocar. Acho que ela também, porque me empurrou e entrou no carro. Até que vi que não era nada disso, que não tinha estragado nada, pois ela sussurrou:
- Tá louco!? E se alguém me vê? Entra...
Fomos de carro até um morro numa outra praia próxima, que estava deserta. A vista era fantástica naquele final do dia, e dava para ver as ondas batendo contra as pedras daquele desfiladeiro. Só que eu não conseguia parar de olhar para aquelas pernas, e ela me flagrou. Tentei me explicar:
- Desculpa, eu não queria...
E agora foi ela que me beijou, nossa respiração começou a ficar cada vez mais ofegante, e a pele dela foi ficando vermelha, já que minha barba ficava roçando em seu rosto.
Conversamos por alguns minutos, e anoiteceu. Foi quando, sem que eu percebesse, já estava abraçado nela, e recomeçamos os beijos. Depois de algum tempo, comecei a tocar em sua perna, os pelos louros e a sensação de que estava alisando um lençol de seda. Ela não me interrompeu, mas ao contrário, começou a passar as mãos em meus cabelos, fazendo com que eu sentisse um arrepio nas costas e uma vontade de que aquilo durasse para sempre. De uma hora para outra, estávamos sem roupa, e o calor dos nossos corpos embaçou os vidros. Ficamos suados, e os gemidos ecoavam dentro do automóvel. Os olhos dela estavam fechados, mas eu não conseguia fechar os meus. Precisava ver o que estava acontecendo, eu queria aproveitar cada cheiro, cada pedaço do seu corpo iluminado pela luz do luar, e senti-la parecia mais que instintivo, irracional, até que ouvimos passos do lado de fora aproximando-se do carro. Não conseguíamos enxergar quem era, pois já tinha anoitecido, e os vidros embaçados não permitiam a visão do que estava acontecendo do lado de fora, e ficamos imóveis.
O som dos passos vindo em nossa direção pararam, e de repente uma batida forte no vidro, e uma pergunta em forma de urro ecoou do lado de fora:
- Sibele, você está aí dentro?
- É ele..., disse ela, num sussurro apavorado em meu ouvido.
Era o monstro! Não conseguia raciocinar, mas a minha jugular parecia ter inchado e a pulsação começou a me impedir de respirar. O medo tomou conta de outros sentidos, pois tinha a impressão de não conseguir ouvir ou ver o que estava acontecendo. Aproveitei que estava do lado oposto àquele de que vinham as batidas, e pulei para fora do carro. Saí correndo, completamente nu, deixando minhas roupas para trás, ao lado dos gritos de Sibele.
Quanto mais eu corria, mais desconfortável eu me sentia, sem roupas, e constrangido pela possibilidade de encontrar pessoas pelo caminho enquanto eu estivesse correndo pelado, com um enorme negro no meu encalço. Mas essa era a minha menor preocupação, eu sabia.
A perseguição durou pouco, pois aquele professor de educação física tinha um fôlego privilegiado, e, arrastando-me pelos cabelos, aproximou-me do penhasco, onde podia ver a espuma das ondas refletida no mar, e gritou:
- Sabe nadar, mané!!! E voar?, e jogou-me lá de cima.
Quando vi, estava estatelado no chão. Havia acordado num susto e caído da rede. Não acreditava que tudo não havia passado de um sonho. E lembrei que daqui a algumas horas seria a festa de aniversário dela e eu não havia sido convidado. Bem, mas ao menos eu estava vivo e vestido, usando uma blusa branca e uma calça de moleton cinza, minha roupa mais confortável.
E o interfone tocou...

Nenhum comentário:

Postar um comentário