quarta-feira, 14 de julho de 2010

A MORTE QUE SE VIRE SOZINHA!



Depois de quase três meses de abstinência literária, e de uma recente reflexão para modificar minha atitude em relação aos meus reais desejos de satisfação pessoal, decidi voltar a escrever. Além disso, vários amigos vêm me cobrando textos novos, e isso também ajudou para que saísse da inércia. Diferente do que possa parecer, não havia desistido, só andava sem muita inspiração... ou preguiça mesmo! O fato é que volto ao hábito de dividir com vocês meus pensamentos (ideias e ideais), enfim, a razão de existir deste blog.

Pois bem, o assunto de hoje tem relação com a intenção de melhorar minha qualidade de vida. Sendo mais preciso, decidi largar o cigarro! Finalmente criei vergonha na cara, e resolvi parar de comprar o meu câncer.

É provável que várias das pessoas que me conheçam, quando lerem essa crônica, fiquem espantadas, pois talvez nem saibam que eu, durante quase dezessete anos, fumei! Pois é, na fase adulta, trinta e poucos dias sem, e quase duas décadas com. Nos bares, em festas, no carro, em casa, nas viagens, qualquer lugar e motivo eram suficientes para puxar uma carteira e saciar esse desejo inexplicável. Por vezes, incontrolável. Quem fuma sabe do que estou falando. Conseguimos segurar a vontade por algum tempo, mas quando é protelada por horas, e sentimos a boca salivar, só o que se pensa é na necessidade de uma tragada para aliviar aquela sensação de falta, de algo que até agora não sei o que é. Digamos apenas que se trata de um vazio indefinido.

Confesso que seguidamente me envergonhava do vício. A roupa fedia, o hálito não era nada agradável, o paladar ficava evidentemente alterado, e a resistência física nem se fala, cada vez pior. Tantos contras que eu mesmo não acreditava que aquele pedacinho de papel enrolado com tanta porcaria conseguisse me dominar de um jeito sensivelmente irracional.

Outra coisa de que me envergonhava era o fato de ter começado a fumar numa idade em que já deveria ter alguma consciência do prejuízo futuro. Só que acender um cigarro parecia certo, a melhor coisa no mundo, um prazer momentâneo inconsequente, uma sensação de liberdade incondicional.

Em geral, associava a algum tipo de prazer, uma espécie de complemento às extasiantes noites divertidas, à pacificidade de um momento íntimo, um divisor de águas entre a tranquilidade e a excitação. Em contrapartida, havia os períodos solitários. Nesses, eu o considerava um passatempo. Na verdade, era mais do que isso! O cigarro era um companheiro invisível, porque a solidão com ele era bem mais fácil de ser assimilada. Um estado de espírito aceitável, a parceria silenciosa à espera de um amigo atrasado; um conforto bem-vindo nas horas que não passavam no aeroporto; um alívio causado por uma angústia. Uma forma de amortecer a dor.

Sempre que pensava em parar de fumar, acabava aumentando o consumo. Muitas das vezes era simples compulsão, como se tentasse retaliar minha decisão, uma espécie de compensação ao fato de saber que um dos meus melhores prazeres estava com os dias contados. Em outras, pura ansiedade mesmo pela chegada do dia fatal. Sei que impor um dead line é fundamental, mas quem disse que eu conseguia. Foram inúmeras vezes que cheguei muito perto. Muito perto mesmo!

Bem, depois de acender e tragar uma centena de cigarros na minha vida, e de passar pela experiência de várias tentativas frustradas para acabar com esse vício que me satisfazia de uma forma que sempre achei duvidosa – uma dessas tentativas quase foi bem sucedida (repito: quase), já que durou uns dez meses – decidi que era hora de me reinventar em definitivo, e resolvi viver de um jeito diferente, sem um desses prazeres que causa tanto desprazer ao longo do tempo, consciência que só fui adquirir recentemente.

E nessa nova fase estou me sentindo muito melhor, de consciência limpa por estar me cuidando de forma correta, menos culpado em relação às minhas escolhas, e muito mais vivo, por assim dizer. Se minha vida agora fosse um poema, poderia dizer que o gosto não sente mais vergonha do beijo, o corpo lembra agora uma poesia em silêncio, feita só de cheiro, e o futuro está vindo aos poucos, por conta própria, sem ninguém que o impeça de ocupar seu espaço.

Então é isso, estou novamente me impondo regras, estabelecendo uma nova postura diante das minhas atitudes, à espera ansiosa do sucesso da minha decisão. Tenho certeza de que dessa vez vou conseguir, e sabem por quê? Porque agora tenho uma excepcional razão para seguir adiante, um motivo que intensifica minhas emoções e faz eu querer mais, criando em mim expectativas de ir mais longe, o máximo que der. Cada um deve achar a sua, eu encontrei a minha.

Enfim, larguei o cigarro, e querem saber, estou acreditando muito mais em mim desta vez. Mas posso afirmar para quem estiver lendo essa crônica que não é nada simples, porque a vontade ainda tenho, apenas que agora exerço um controle maior sobre ela. É complicado, mas vamos lá!

E diante de tudo que estou passando, cheguei a uma conclusão em relação às experiências que tive: largar o cigarro é fácil! Difícil mesmo é parar de fumar.