domingo, 21 de março de 2010

VIVER PARA SEMPRE


Existe uma razão para tudo na vida. Inclusive para o fato de eu estar na frente do computador hoje, postando essa crônica que você está lendo.

Tudo começou com um sonho que tive. O sonho da minha morte, do fim dos meus planos, da minha vida, mas um recomeço para outras pessoas, o início de uma vida da qual não participaria mais. O que aconteceria a partir de agora provavelmente não faria a menor diferença para mim, afinal de contas eu não estaria mais aqui mesmo.

Acontece que no meu funeral as pessoas lamentavam com pesar a minha ausência infinita, a falta que faria. Dentre os amigos e familiares que falavam sobre minha vida, surgiram lembranças de momentos que passamos juntos, evidências aparentes de que nossa vida sempre encosta na dos outros, e deixa marcas indeléveis, mesmo que não se perceba. Mas até quando?

Por coincidência do destino, li em uma crônica da Martha Medeiros, alguns dias depois, que a nossa existência não finda com a morte física, circunstância inevitável na vida de todos. Não, definitivamente não! A nossa morte de fato acontece, sim, com a morte da última pessoa que lembrar e falar de nós, que tiver a sua vida tocada, de um jeito ou de outro, por alguma coisa que fizemos ou dissemos. É inegável, portanto, que nossos atos representam o marco inicial para que possamos viver mais, viver eternamente, se assim fosse possível.

Não lembro qual foi a época em que ouvi aquela expressão de que uma pessoa só deve morrer depois que houver tido um filho, escrito um livro e plantado uma árvore. Nunca fez muito sentido para mim, até o dia em que li aquela crônica.

Ninguém quer ser esquecido! Eu, pelo menos, garanto que gostaria de partir deixando um legado, uma história que valesse a pena ser contada, momentos que tivessem um valor inestimável para serem lembrados. Sinto falta daqueles amigos que já foram, uns mais cedo do que outros, mas o que realmente importa é que lembro e falo deles até hoje, mantenho a salvo a sua memória dentro da minha.

Assim, tudo isso pode ser visto da seguinte forma: ter um filho provavelmente não seja uma opção para todos. Talvez nem um desejo. Mas com certeza é uma rara oportunidade de legar às futuras gerações um pedacinho de nós. Plantar uma árvore com certeza reflete um auxílio real e concreto para que nossa prole cresça melhor, e possa ter uma vida que de fato mereça esse nome. Agora, escrever um livro – e nesse sentido nenhuma restrição ao seu instrumento, pois vale tudo, desde que fique registrado em algum lugar o que pensamos, criamos, refletimos e amamos – identifica nossas ideias aos nossos desejos e ideais, representa o que somos, escritores, poetas, filósofos ou artistas, seres que pensam e sentem, e são capazes de tudo, inclusive de evitar serem esquecidos, e de permitir viver além da própria existência.

Essa é a origem desse blog. Essa é a origem do livro que comecei a escrever.

Obrigado, Martha Medeiros!!!

segunda-feira, 15 de março de 2010

O TARADO

Júlio não se sentia nada bem, numa necessidade de urinar fora do comum. Precisava de um banheiro urgente, mas como tinha ido àquele shopping center apenas para pegar uma encomenda, e sabia que não demoraria, decidiu ser rápido para não ter que pagar o estacionamento. Coisa de pão-duro, ele sabia, mas conseguiria aguentar, afinal de contas, de carro, não demoraria mais do que 15 minutos até chegar em casa.

Saiu apressado do shopping, conseguindo evitar o pagamento. Mas a partir dali arrependeu-se amargamente. Nos minutos que se seguiram, o suor descia pelas têmporas, pelas costas, calafrios pelo corpo todo, maldizendo essa sua mania idiota de economizar com bobagens, afinal de contas quatro reais eram uma pechincha frente ao sofrimento que estava passando. Uma dor lancinante na lateral do abdômen fazia com que perdesse a paciência com os outros motoristas que se demoravam a arrancar quando o semáforo abria, que andavam lentamente naquele trânsito infernal. “Imbecis!!! Ninguém mais sabe dirigir hoje em dia!”, esbravejava de dentro do carro.

Em alguns minutos, que lhe pareceram horas, não conseguia mais raciocinar. Foi quando, num lampejo de lucidez, lembrou de um supermercado que havia no caminho. Lá ele recordava de um banheiro, e quase urinou nas calças só de pensar em estar na frente do vaso sanitário.

Sem pensar em mais nada, aumentou a velocidade, e quase atropelou um moto-boy que ultrapassou o sinal vermelho. Poucos minutos depois chegava ao tal supermercado. Desceu do automóvel correndo, e esqueceu até de verificar se havia trancado as portas. “Azar, podem levar esta merda”, pensava ele, impaciente.

Com muita pressa, e andando de forma desesperada e contorcida, subiu as escadas até o segundo andar a passos largos, e entrou no corredor em que havia os banheiros, ultrapassando a primeira porta que viu. Sem pensar em mais nada, já foi entrando em um dos boxes e abaixando as calças. Chegou a se sentar, tamanha a dor que sentia. E o alívio foi imediato! Chegava a sorrir sozinho, divertindo-se consigo mesmo só de lembrar de sua sovinice.

Foi quando, num relance, pensou não ter visto aqueles vasos sanitários de parede, que costumeiramente se vê nos banheiros masculinos. Será que teria entrado no banheiro... não, não podia ser! E começou a ouvir vozes de crianças, de meninas rindo e conversando. Vozes que se aproximavam rapidamente, até que teve a certeza do seu equívoco, e de que na pressa havia errado a porta. Definitivamente, aquele era o banheiro feminino.

As crianças falavam sem parar, e riam. Brincavam entre elas. Ele rapidamente fechou a porta do box em que estava, e percebeu que a porta não o escondia completamente, já que possuía um vão de uns 20 cm na altura dos pés. Sentado, elevou as pernas apoiando-as contra a porta. Não sabia mais o que fazer. Estava desesperado. E as mães das meninas entraram logo em seguida.
Não tinha dúvidas de que se o descobrissem gritariam, chamariam a segurança, quem sabe até a polícia! Tarado seria o menor dos adjetivos. E a vergonha o menor de seus problemas.

Outras vozes femininas invadiram o ambiente, três jovens falando da noite anterior, do “gatinho” que uma delas tinha beijado, irmão de um outro que era um espetáculo de homem, segundo uma delas que falava toda empolgada. Não paravam de conversar, emendando um assunto no outro.

Uma das crianças entrou no box ao lado do dele, e pode ver pelo reflexo no chão, apesar da visão não possuir a menor nitidez, que ela abaixara as calças e sentara no vaso sanitário. Ficou mais desesperado ainda. Se ele conseguia ver o movimento que ela fizera, provavelmente ela também poderia vê-lo. E saberia pelas feições, mesmo que disformes, que se tratava de um homem que estava no vaso ao lado do seu. E gritaria, com certeza!!!

Naquela agonia que lhe proporcionava um calor descomunal, o suor começou a escorrer pelo rosto. A posição que se encontrava também não parava de incomodá-lo, superdimensionada pela dor no nervo ciático. E não tinha a menor ideia de como sairia daquela situação, já que a cada mulher que ia embora, outras duas entravam. E a menina ao seu lado saiu sem perceber a sua presença. "Graças a Deus!", suspirava aliviado.

Júlio olhou no relógio e notou que já estava ali sentado há mais de 45 minutos. E nenhuma perspectiva de ir embora. Aquelas duas mulheres que ainda restavam no banheiro não paravam de falar de um creme para o rosto que fazia milagres, e que uma delas adquirira por um preço bem acessível.

De repente, ela decidiu mostrar o tal creme e abriu a bolsa. Ao retirá-lo de dentro dela, duas moedas caíram no chão e rolaram por debaixo do box onde ele se encontrava. Pavor total! Elas começaram a rir, vendo que havia alguém lá dentro. Ele, para que elas pudessem ir embora de uma vez, entortou-se todo, já que estava com as pernas esticadas, e empurrou as duas moedas para fora do box. Elas caíram na gargalhada, agradeceram, ainda rindo, e foram embora.

Silêncio... Levantou-se, quase não sentindo mais as pernas que estavam dormentes, abriu a porta bem devagar, e saiu. No mesmo instante, uma senhora entrou no banheiro, e olhou para ele, parecendo desconfiada. Ele retornou o olhar para a idosa, e, andando em direção à saída, disse, com a maior cara de pau:

- A Sra. não pode usar este vaso. Está entupido e só amanhã vou poder consertar.

sexta-feira, 5 de março de 2010

SIMPLESMENTE MULHER...


A
expressão mais linda da gênese
Refletindo a sensibilidade e delicadeza do ser,
Extrapola a pretensão do querer,
Querer te ver, querer-te ser, querer te ter...

É você que faz da vida a própria vida,
É você que faz a paixão ser tão querida
E é você que com seu jeito caloroso
Faz tudo parecer bem mais gostoso.


Embora obstaculizado por momentos
O amanhã você deixa colorido
Com seus sentidos, ou mesmo, sentimentos
Você deixa todo o mundo sorrindo!

Ser essencialmente essência
Que pela perfeição única de sua existência
Sustenta em seu âmago
O intuito de ser o que quer,
De ser o que é,
Simplesmente mulher...

(Nota do autor: uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher - 08/MAR)