segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

AMIGOS VITAIS


Vinícius de Moraes certa vez disse que “a gente não faz amigos, reconhece-os”. Ninguém menos do que um perfeito gênio poderia ter dito tanto, com tão poucas palavras. E justamente por ser meu preferido, inspiro-me nele para escrever algumas palavras sobre os meus amigos, expressões da mais pura verdade.

Lentamente, a vida aproxima pessoas que se tornam amigas, assim de repente, amores constantes e sólidos, não daqueles que vem e que vão, lembranças desde criança, ou não. Dos amigos não se espera nada além do que são, só se quer a sua amizade, que nos traz tanto conforto, tanta felicidade.
Realmente, meus amigos representam meu tesouro mais precioso. Ditam o meu bem estar, sintonizam os meus dias numa onda de tranquilidade, que me permite acordar e ter a certeza de que felicidade existe sim, mas nunca sem eles.
Sinceramente, a dedicação que dispenso aos meus amigos não chega aos pés do quanto os amo. É que nem sempre meu carinho consegue ser fiel aos meus sentimentos, e a necessidade de que eles saibam disso, de um jeito ou de outro, fez com que eu buscasse a inspiração necessária para escrever essa crônica, uma espécie de homenagem.
Efetivamente, a cada dia que passo longe deles, é simplesmente isso, um dia que passa, sem o brilho que deveria ter. Mas quando estão ao meu lado, é como se tudo ficasse melhor, tivesse um algo a mais, quem sabe mais cor, de repente mais gosto, sabor, exatamente o oposto do que me sinto quando estou sem eles.
Certamente, e disso não tenho dúvidas, muitos daqueles que lerem estes meus pensamentos não terão a menor consciência do quanto dependo deles, do quanto são importantes para mim, da imprescindibilidade de sua existência em relação à minha, enfim, do valor de nossa amizade. Mas espero que consiga com estas palavras corrigir um pouco isso.
Inevitavelmente, e falo isso com pesar, ao longo deste percurso chamado vida, vou perder alguns amigos. Sinto que é um pedaço de mim que se vai, uma dor real e sensível, uma perna que me tiram. E, por isso, de um jeito meio egoísta, rezo para que tenham saúde, porque meu sorriso e alegria depende deles, que equilibram a minha vida.
E finalmente, minhas preces também vão àqueles amigos que já perdi, e que foram, quem sabe, tão cedo, assim sem querer, antes de mim. Rezo para que estejam bem, para que me permitam lembrar de vocês, simplesmente, até o dia em que eu os encontrar novamente. Saibam que continuam em mim, através de mim, e jamais perderão a importância que sempre tiveram na minha vida.
Assim, a todos vocês, que modificam constantemente o que sou, transformando-me numa pessoa melhor, só posso agradecer. E dizer que o poeta não poderia ter sido mais preciso, porque reconhecer você como meu amigo foi fácil demais.
(Nota do autor: não por acaso todas as frases têm em seu início uma palavra terminada em "mente", considerando que os meus amigos não saem dela)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ALÔ???


- A
lô?
- Alô? Mãe?
- Oi, é você, filha?
- Sim, ainda não aprendeu a usar o bina.
- Quem é Obina?
- Esquece, mãe. Eu queria falar com o pai. Sabe onde ele tá?
- Deve estar no trabalho a essa hora, querida.
- Não, mãe, já liguei pra lá e disseram que saiu pra almoçar faz pouco tempo. E não consigo falar com ele no celular. Está desligado.
- Como assim, não pode ser!!! Nós acabamos de almoçar juntos e ele me deixou aqui no escritório há meia hora atrás. Já deve ter chegado no trabalho.
- Ah, mãe... não sei!?
- Não sabe o quê?
- Não sei, só isso.
- Filha, tu sabe de alguma coisa?
- Saber o quê, mãe?
- Esquece, querida. É que ele anda tão estranho ultimamente, muito romântico pro meu gosto. Mas deixa pra lá.
- Ah, mãe, eles devem ter se enganado.
- Só um pouco, filha, está tocando a outra linha. Ai, será que eu sei usar isso? Espera um minuto...

- Alô?
- Alô?
- Rodolfo?
- Sim querida, sou eu. Estou ligando só pra dizer que o almoço estava maravilhoso, e que comprei uma coisinha pra nossa noite, já que a Marília vai dormir na casa das amiguinhas.
- É, deve ser por isso que ela está atrás de ti. Deve estar querendo saber a que horas tu vais levá-la. Depois liga pra ela. Mas onde tu estás?
- Como assim? Na empresa, onde mais eu estaria!
- Não sei, quem sabe almoçando?
- Espera aí? Se não me engano, foi hoje que nós almoçamos juntos, não foi?
- É... deixa pra lá. Beijo, Rodolfo.
- ???


- Alô?
- Alô?
- Oi, filha.
- Mãe?
- Sim. Olha só, falei com o teu pai. Ele está na empresa. Liga pra lá.
- Mãe, acabei de ligar pra lá, enquanto tu me deixou esperando na linha. Eles confirmaram que saiu para um almoço, e disse que não saberia a que horas voltaria. Tentei ligar para o celular e continuava desligado.
- Mas não pode ser?!
- Ah, mãe, não sei.
- Não sabe o quê?
- Nada, mãe, que coisa chata!
- Não fala assim com a tua mãe.
- Tá, depois a gente conversa. Vou ter que desligar o celular. Tô super atrasada.
- Espera! Te disseram com quem ele foi almoçar?
- Sim, com a mulher dele.
- Como assim? A mulher dele sou eu.
- Ah, mãe, não sei.
- Que é que tu tá me escondendo? Tu sabe de alguma coisa, filha?
- Tá, dona Mariza, se falar com ele pede pra me ligar. Fui...
(...)
- Dona Mariza???

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A PRIMEIRA VEZ


Definitivamente, vou ter que procurar um médico! – pensou em voz alta ao sair do banheiro.

Américo Flores, ou simplesmente Flowers, como era conhecido pelos amigos mais próximos, era um homem que havia dedicado mais de duas décadas de sua vida profissional à advocacia criminalista, tendo concluído sua formação acadêmica ainda muito jovem, por imposição do pai, apesar de imaginar que seria muito mais feliz se tivesse seguido a carreira de jornalista. Sempre foi um homem corajoso, afinal de contas, já havia visto coisas “que até Deus duvida!”, como dizia ele aos amigos nas mesas de bar, às quais frequentava com assiduidade. Aliás, este foi um dos motivos da difícil separação de um casamento com Helena, que durara oito anos, pois ela seguidamente jantava sozinha, reclamação que sempre ouvia quando chegava tarde em casa. E ele, como sempre, inventava desculpas, por vezes culpando o trabalho, ou simplesmente falando a verdade:

- Estava num bar com um cliente! – e essa era uma verdade para ele, já que tinha a ideia de que todos eram clientes em potencial.

- Então esquenta a comida. Está no micro! – retrucava ela, sem prestar atenção à desculpa, e ia dormir.

Nos primeiros meses após a separação, começou a perceber que não sentia a menor falta da esposa, mas admitiu que ela cozinhava muito bem. Era o seu lado irônico e machista tentando compensar a necessidade de comer sanduíches noite após noite, já que não sabia fritar um ovo. Com o passar do tempo resolveu inovar, ficava mais tempo em casa, e até contratou uma cozinheira que deixava a comida pronta no forno de microondas, a única coisa que o fazia lembrar com carinho da ex-mulher. E resolveu que era hora de mudar radicalmente o estilo de vida, e fazer o que sempre gostara, até porque já havia adquirido um patrimônio considerável, além de ter recebido uma herança que lhe proporcionava bons rendimentos. Decidiu fazer jornalismo.

Na faculdade, conhecia pessoas diferentes diariamente, divertia-se com os novos amigos, colegas bem mais jovens do que ele, organizava festas em sua casa, e com o passar dos meses começou a conviver com alunos de outros cursos também. Ticiane era uma dessas novas amigas, uma estudante de medicina, vinte anos mais jovem do que ele, amiga de um amigo, a única mulher que, nos últimos tempos, conseguira impressioná-lo, tanto por sua beleza, como pela afinidade e identidade de ideias, observada nas poucas conversas que tiveram. Só lamentava que ela sempre recusasse seus convites para sair.

E assim, nesse ritmo de vida nova, que incluía faculdade, festas, novas amizades, Américo não sentia mais saudade da antiga profissão, dos amigos de bar, da boemia solitária. Dizia apenas que deveria diminuir o consumo de álcool e parar com o cigarro, mas eram daqueles prazeres tão antigos que já faziam parte do seu dia-a-dia, como se fosse impossível abandoná-los.

Logo no início do segundo ano de faculdade começou a desconfiar de que estava com algum problema de saúde. Observou que ia ao banheiro diversas vezes ao dia, e cada vez que urinava sentia uma ardência muito forte. Naquela noite de março, quando estava no aniversário de um amigo, viu que pela oitava vez estava indo ao banheiro, e novamente sentiu a uretra pegando fogo, foi quando decidiu definitivamente que procuraria um médico.

No dia seguinte, por indicação de um parente, ligou para o Dr. Guilherme Bueno, considerado um dos melhores urologistas de Porto Alegre. O médico disse que estaria viajando para a Europa, e que só seria possível atendê-lo naquele dia, com o que concordou prontamente, já que estava começando a ficar preocupado com as ardências e a dificuldade em urinar. Às quatro horas da tarde, conforme o combinado, Américo já estava sentado na sala de espera do consultório.

Após ser chamado pela recepcionista, entrou por um corredor branco, pouco iluminado, e ouviu vozes numa sala fechada, uma espécie de reunião. O Dr. Guilherme apareceu ao final do longo corredor, e, cumprimentando-o, fechou a porta. Passados alguns minutos, depois de uma conversa rápida, o médico disse:

- Pois então! Parece-me que estas ardências podem estar relacionadas a algum tipo de infecção, e teria que fazer um exame para poder identificar a causa com mais precisão. Se o Sr. tiver tempo, podemos fazer agora mesmo.

- E como seria exatamente esse exame, doutor – num tom intrigado.

- Chama-se toque retal. Aliás, o Sr. já deveria ter feito esse exame há alguns anos; todos os anos, diga-se de passagem. Bem, o exame consiste na coleta de material direto da próstata, e também para sentir como ela está, até porque estou desconfiado de que se trata de uma prostatite. É bem rápido, e não vai levar mais do que alguns minutos!

- Sei, já ouvi falar desse exame. Mas se não tem outro jeito, tudo bem! – quando na verdade pensava exatamente o contrário.

- Então, por favor, tire a roupa, e coloque um daqueles aventais – apontando para um armário localizado no canto da sala.

Enquanto tirava a roupa, tentou brincar com a situação, e perguntou:

- Vai doer, doutor? – e começou a rir de si mesmo.

- Não se preocupe, na primeira vez é só uma sensação desconfortável – respondeu ele, enquanto colocava as luvas de borracha.

- Na primeira vez é desconfortável? E tem gente que se acostuma na segunda?

Como se não tivesse prestado atenção, o médico falou:

- Vá até aquela mesa e fique na posição. O Sr. sabe, “de quatro” – disse o médico, deixando escapar um sorriso debochado.

O avental que Flowers usava deixava toda a parte de trás aberta, e quando o Dr. Guilherme ia começar o exame, perguntou:

- O Sr. se incomoda que chame alguns colegas que estão na sala ao lado para auxiliarem e acompanharem o exame?

- Não, não vejo problemas... - e por um instante pensou, “eu acho”.

O médico saiu, e após poucos segundos – Américo ainda continuava naquela posição constrangedora – entraram pela porta sete jovens, que o deixaram ainda mais envergonhado. Quando a porta estava fechando, alguém a empurrou e disse:

- Espera, sou eu!

E ele reconheceu a voz. Não teve nem coragem de levantar o rosto. Com certeza a voz era de Ticiane. E ela também o reconheceu:

- Oi Américo, que coincidência?

- Muita – disse ele, de modo irônico.

A partir daquele momento, a relação médico-paciente ficou seriamente abalada, uma porque jamais imaginou que os “colegas” do médico fossem estudantes; outra, pela completa falta de sensibilidade com que o Dr. Guilherme fazia o exame nele, comentando detalhes de sua região anal como se estivesse descrevendo alguma fruta, inclusive indicando defeitos em sua anatomia. Além disso, apesar do médico não saber que Américo conhecia Ticiane, ele jamais o perdoaria, e só tentava controlar a raiva que sentia, torcendo para chegar ao fim daquilo que mais parecia uma tortura psicológica.

Terminado o exame, foi embora sem se despedir de ninguém, e tomou uma decisão: não teria mais condições de olhar para Ticiane depois daquela tarde. Quando estava entrando no carro ouviu seu nome, e ao olhar para trás pode ver que ela corria em sua direção com algo nas mãos.

- Você esqueceu a carteira, deve ter caído! – disse ela, ainda ofegante.

- É, deve. Bem, vou indo.

- Espera! Não precisa ficar com vergonha de mim. Imagino que deve ter sido constrangedor, mas não precisa ficar assim. Afinal de contas, vou ver esse tipo de coisa a vida toda.

- É, pode ser. Mas não precisava ter visto a minha “coisa”.

Caíram na gargalhada. E só pararam de rir quando ela aceitou o convite dele para jantar aquela noite.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A RUIVA COM RAIVA



Ainda não lembro de uma vez em que eu tenha pegado um táxi, trocado algumas palavras com o motorista, e ele não tenha se achado íntimo para me contar uma história mirabolante, por vezes sobre um casal de passageiros que o convidou para fazer um ménage à trois, ou de duas meninas de 20 anos que queriam experimentar com ele uma aventura digna de um filme pornô.
Dessa vez, algo naquele homem de cinqüenta e poucos anos fez com que eu acreditasse na história que ouvi. Irani Pedro Soares – era o nome que aparecia na placa de registro – pareceu-me um homem calado, até que comentei qualquer coisa sobre uma loira deslumbrante que passava perto do táxi.
- Linda, realmente linda, mas nem perto da passageira que apareceu há uns três meses atrás! – retrucou ele.
E sentindo que queria falar sobre ela, incentivei-o, num tom pouco interessado.
- Tá bom, se o Sr. quer ouvir eu conto - disse ele.
E desfez-se a minha ideia sobre taxistas que falam pouco.
- Um dia desses, recebi uma chamada por volta das 19h pra pegar uma passageira. Sei exatamente a hora, porque era praticamente a minha última corrida. Quando cheguei pra pegá-la, saiu da portaria de um edifício uma mulher linda, devia ter uns 35 anos, ruiva, olhos azuis, usando botas de couro e uma saia marrom, e dava para ver que a moça tinha uma cinturinha fina e quadris que escondiam alguma safadeza.
Comecei a rir e devo ter repetido em voz alta as suas últimas palavras, porque ele parou de falar e começou a me olhar desconfiado. Pedi desculpas e insisti pra que continuasse.
- Bem, ela era uma lindeza, e perguntou se eu tinha tempo e gostaria de ganhar um bom dinheiro. O Sr. sabe, vida de taxista não é fácil, “de formas” que faço qualquer coisa pra ganhar um dinheirinho extra. Só que já fui avisando que sacanagem eu não faço, nem nada ilegal. E ela disse pra eu não me preocupar. Quando chegamos na Av. Sete de Setembro, ela pediu para ficarmos esperando no táxi, e não tirava os olhos de um prédio, acho que era uma agência bancária. Depois de quase meia-hora ali, e depois de conversarmos um pouco, apareceu um homem alto com o braço em volta da cintura de uma morena muito bonita, mas certamente não tão bonita quanto a minha passageira. Foi quando olhei pelo espelho retrovisor e vi que estava furiosa, as buchechas vermelhas, numa combinação com os cabelos que chegava a dar medo, parecia que ia pegar fogo, e gritava coisas que nunca imaginei ouvir de uma mulher daquelas. O Sr. sabe o que eu quero dizer, mulher que nem ela, que aparenta ter caráter a gente nem desconfia que tem a boca suja.
E eu só pensava o que é que o caráter tinha a ver com isso, mas...
E ele prosseguiu:
- Pois então, não é que o desgraçado era marido da moça, e depois de abrir a porta para a morena, entrou no carro e saiu. Deu pra ver que ela não era nenhuma amiguinha, porque em cada sinaleira dava umas “bitoquinhas” na safada. A dona Eliana, minha passageira, só me pedia para continuar seguindo o marido de longe, que dinheiro não era problema, e foi o que fiz. Segui-o durante mais uma meia-hora, ouvindo tudo que era desaforo e lamentação, até que o sujeitinho... - e virou-se para mim, talvez para ver se eu estava prestando atenção:
- O Sr. nem vai acreditar onde é que ele entrou?
- Num motel, eu acho!? – numa tentativa curiosa para que ele pudesse terminar a história antes de chegar ao meu destino.
- Exatamente! E a mulherzinha atrás de mim parecia que tava tendo um ataque, gritando que ia se vingar, que ele era um canalha, que ela tinha sido uma idiota, e outras palavras que tenho até vergonha de repetir. Só sei que depois de um tempo pediu para que eu a levasse a um bar, porque ela queria “encher a cara”. E foi aí, moço, que eu me empolguei.
- Por quê? – indaguei apressadamente.
- O Sr. não vai imaginar o que ela disse?
- Fala logo, meu amigo!!! – retruquei sem paciência, embora estivesse me divertindo com aquela história.
- Ela disse que ia dar para o primeiro homem que aparecesse na frente dela. Fiquei todo emocionado, cheguei a estufar o peito. O Sr. nem acredita, mas tava tão perturbado com o que ela tinha dito, que cheguei a falar que ia cobrar só a corrida, e que não queria mais nenhum dinheiro dela. A moça sorriu, agradeceu, e entrou no bar, pediu um uísque, me ofereceu outro, mas eu disse que estava trabalhando e não podia. Depois de umas três doses já estava bem faceira, e disse que queria ir para casa, que ia se arrumar, e repetiu que ia dar para o primeiro homem que visse. Fiquei pensando o que é que eu era, pra ela ficar repetindo isso a toda hora. Só sei que entrou no táxi e pediu para levá-la até em casa, e esperasse, que queria ir a alguma boate, porque precisava encontrar um homem naquela noite. A essa altura eu já tinha até me arrependido de dizer que não ia cobrar o tempo extra.
- E onde é que o Sr. a levou?
- Calma, moço! Cheguei na casa dela, e foi aí que me pediu pra subir e esperar lá em cima. Cheguei a ficar suado, só de pensar. “Agora me dei bem!”, eu pensei. Ela abriu a porta, entrou no apartamento, e disse que já voltava. Não é que ela voltou mesmo, bem rapidinho, só de calcinha e sutiã. Uma loucura de mulher.
- Então, o Sr. conseguiu?
- Quem dera! Sem querer, devo ter feito uma cara de tarado, porque ela pediu desculpas, e saiu correndo. E eu só repetia em voz alta: “Agora eu já vi!”, “Agora eu já vi!”, mas era tarde.
- E ela?
- Pois é, saiu correndo, eu não sabia se ia atrás dela, mas foi aí que ela gritou lá de dentro, dizendo que ia se arrumar e pediu pra eu esperar. E não parava de pedir desculpas. Comecei a ficar até com raiva da desgraçada. Quando ela voltou toda arrumada, bem cheirosa, a raiva passou...
Nesse instante, o táxi chegou na frente do prédio em que eu tinha que desembarcar. Mas antes de descer, perguntei:
- E o que aconteceu depois?
- Nada, moço. Nadica de nada! Só sei que alguém se deu bem aquela noite, e não fui eu. Mas a dona Eliana ainda me liga sempre... sempre que precisa de um táxi.