segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A SOLIDÃO INVISÍVEL




Ontem revi um filme em DVD intitulado “A Mulher Invisível”, com direção de Cláudio Torres, irmão da atriz Fernanda Torres, cuja participação no filme é secundária, mas, como sempre, hilária e excepcional. Ela é irmã de Vitória, personagem da atriz Maria Manoella, a qual nutre uma paixão platônica e frustrada por seu vizinho, depois de passar anos ouvindo através das paredes as suas aventuras e desventuras amorosas. O vizinho, Pedro, interpretado pelo ator Selton Mello, é um cara que não tem nenhum medo de amar, e por isso sofre demais quando sua mulher o abandona para ir morar com outro homem. Modo antagônico, Carlos, seu melhor amigo, interpretado por Vladimir Brichta, tem uma visão completamente diferente dos relacionamentos, deixando de lado qualquer possibilidade de envolvimento emocional, e seu modo de encará-los beira à frivolidade.

A história gira em torno de Pedro, que, após ter mergulhado por meses numa depressão profunda, recebe a visita de uma vizinha, Amanda, interpretada por Luana Piovani, que vem lhe pedir uma chícara de açúcar no meio da madrugada. Clichê perfeito! Ela, uma mulher perfeita, ideal, sob todos os aspectos, pois satisfaz todos os desejos e expectativas daquele homem desiludido, passa a fazer parte de sua vida como se tivesse vida própria, mas não é mais do que uma idealização, uma pessoa que só existe em sua cabeça, criada em resposta ao seu desespero emocional.

Já havia visto o filme no cinema, onde dei boas gargalhadas, afinal o filme é uma comédia romântica realmente muito divertida. Mas comecei a observar as características de todos os personagens, e percebi que é um pouco mais do que isso. Sem sombra de dúvida, a maioria deles apresenta um traço sentimental e pessoal em comum: solidão.

A solidão retratada no filme pode ser examinada sob diversos ângulos, enfoques de cenas da realidade de cada um de nós, que, de um jeito ou de outro, já foi sentida ou será, no decorrer de nossas vidas.

Solidão por estar sozinho, ensejando uma tristeza por não se sentir completo, numa absoluta privação de algo, sem nem saber ausência do quê! Uma quase falta de espírito, dor na pele, e ainda mais forte na alma, isolamento na cor da escuridão, isso é um tipo solidão. Essa era a de Selton Mello.

Tem aquela que forçamos, do tipo que fortalece, de uma forma que buscamos. É solidão por si só, uma entrega por amor, uma procura por mais força, um egoísmo, seja o que for. De qualquer forma ela é dor, que desgasta e corrói, e que frustra quando dói, na busca de resposta e da paz interior. Essa era a solidão da vizinha Vitória.

E tem também a que existe sem saber, uma fuga do destino, e que esquecemos de propósito, assim, de inopino, sem ao menos perceber. É um medo da realidade, que acontece diariamente, e que apavora com facilidade, na observação de outras vidas, simplesmente. Ela é de um tipo que se sente quando se olha para o futuro, um medo do que ainda não existe, do que está por vir, se porventura a vida se perder na espera. E essa era a do amigo Carlos.

Certamente existem outros tipos de solidão que são individuais na origem, mas comuns na essência. A solidão não é palpável, ela é inexplicável, pois como podemos senti-la mesmo quando não estamos sós, quando temos por perto, e por completo, as pessoas que amamos. E nesta perspectiva, há quem a prefira quando se está sozinho, como o poeta Mário Quintana que, em alguma parte da vida, passou a preferir a solidão sozinho à solidão a dois. Ou seja, independentemente do modo como se veja, a sua forma de solidão tem de ser encarada como um crescimento pessoal, e deve servir para reflexão e aprimoramento emocional, para que em algum momento possa cessar esse isolamento e a abstinência do prazer de sentir-se bem consigo mesmo. Não permita que ela tome conta por completo, e se transforme em depressão.

Minha visão sobre a solidão é simples. Todos nós sabemos que o ser humano nasce e morre só. Acontece que no caminho entre estas duas pontas, temos que aprender a conviver e fazer parte da vida de outras pessoas, que representam toda a diferença nesse processo. É a razão de seguir adiante, de começar de novo, de entender o porquê, já que às vezes só podemos contar com nós mesmos, e isso é inevitável. O fato é que sempre precisaremos de carinho, de atenção, de um ombro amigo, do contato físico, porque viver fica muito mais fácil, e é por isso mesmo que temos que entender e aprender a lidar o melhor possível com esse inexplicável e invisível sentimento chamado Solidão.

E este foi um dos momentos da minha vida em que tive que aprender com ela...

Silenciosamente hoje

Como posso explicar isso e, ao mesmo tempo, poder compreender e aceitar?

Simplesmente as coisas ficaram silenciosas, de repente, e comecei a entender que tudo pode mudar de uma hora para outra. Ela não está mais aqui, não divide mais seus problemas, e meus sonhos, agora, são apenas meus, e parecem não ter a mesma graça. A vida tem que seguir adiante, mas muitas vezes falar é fácil. Quando imaginava isso, ficava mais ainda. O difícil agora é justamente esse seguir adiante, esse avançar sem os planos feitos a dois, sem a parceria pra te dar aquela força, pra te ajudar a levantar, e, mais do que tudo, pra te fazer dormir um sono agradável, tranquilo e sereno. Confesso que sinto falta dos dias em que fomos confidentes, cumplicidade que vinha justamente do fato de sermos amigos de verdade. Lembro, com carinho, das noites em que fomos amantes, e dos dias em que continuávamos sendo. Recordo de um tempo que passou, mas que ficará marcado para sempre em mim, marcas indeléveis, dor física constante pela ausência, mas suportável, pois ao menos tive a sorte de viver momentos que me fazem sorrir e chorar, lembrar e jamais querer apagar, momentos da nossa história.

Pensava que tudo ia bem, que as coisas já estavam definidas, que nada poderia alterar as decisões que tomamos no passado, e que se sedimentavam no presente, mas não foi bem assim. Agora vejo que daqui pra frente, tudo vai ser diferente, como diz a canção, e acho que não estava preparado, mas quem está? Diante de tudo isso,erteza: enganei-messo, mas quem estndo estamos felizes, posso dizer que aconteceu comigo: enganei-me quando pensei que sabia todas as respostas, pois veio ela, a vida, e se encarregou de mudar as perguntas.

E o silêncio? Estou me acostumando com ele...

OUT/2005



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