terça-feira, 17 de novembro de 2009

GOSTAR OU NÃO GOSTAR, EIS A QUESTÃO!


Não é uma tragédia de Shakespeare, como "Hamlet", mas existem pessoas que tratam a questão da insatisfação pessoal em relação aos seus empregos como se fosse.
Sempre questionei minhas escolhas na vida, em especial no âmbito profissional. Neste particular, isso aconteceu há muito tempo atrás, quando estava decidindo o que queria fazer na vida, do que eu gostava, qual minha vocação, se é que eu tinha alguma.
Tenho a certeza de ter ouvido pessoas dizendo que todo mundo é vocacionado para alguma coisa, ou às vezes para várias, mas será que eu seria? Nunca me via decidido em relação a qualquer profissão, pois sempre tive a estranha sensação de que cansaria de qualquer emprego que não me trouxesse novos desafios, que não apresentasse, por vezes, alguma novidade, que caísse na rotina, e por isso é que talvez, ao longo da minha vida, em relação a outras coisas, acabei deixando de lado o que havia começado, sem que desse a elas um ponto final, uma conclusão satisfatória. E assim, sem saber o que realmente me faria feliz, decidi deixar a escolha ao destino, e acabei fazendo o curso de Direito, aos 16 anos. E pouco tempo depois já estava trabalhando em uma função pública, depois de ter passado num concurso aos 18 anos. Mas será que era isso que eu gostaria de fazer na vida?
Gostar! O que sempre gostei de fazer mesmo é viajar, ir à praia, correr, sair com amigos, tomar banho de piscina, de chuva, assistir a um bom filme, frequentar bons restaurantes, enfim, o que mais gosto de fazer até hoje sai de graça, ou às vezes ainda pago por isso.
Tenho que esclarecer que há um tempo atrás, minha frustração por não fazer profissionalmente algo que realmente eu gostasse - apesar de achar que poderia gostar de várias coisas, mas não saber exatamente qual me faria feliz - nunca foi segredo. E, mesmo parecendo um contrassenso, hoje não consigo esconder minha indignação ao ouvir as pessoas afirmando que são infelizes ou insatisfeitas por não fazerem o que gostam, mas que o fazem por uma questão de sobrevivência ou falta de oportunidade, o que acaba refletindo no modo como realizam o serviço, e, por conseqüência, gerando um resultado, no mínimo, insatisfatório. Fico inconformado com isso, porque, apesar de não contar com a sorte de trabalhar na profissão que sou vocacionado – confesso que tenho 37 anos e até agora não sei qual é – aprendi que gostar do que se faz é mais importante do que o inverso.
Fico imaginando se todos aqueles que combatem o crime, ganhando pouco e expondo à risco sua vida e a de sua família, como é o caso dos nossos policiais, gostam do que fazem; ainda, será que todos os médicos e enfermeiros nasceram com vocação para ficar dias e noites acordados, perder inúmeros finais de semana, feriados, tempo com amigos e familiares, sempre sob estresse e angústia constantes, “somente” para salvar vidas. E quem de nós já sonhou em acordar e abrir um sorriso porque ao final do dia sairia de casa para recolher a imensidão de lixo produzida em todos os cantos da cidade, e com orgulho dizer, eu sou lixeiro por vocação! Exatamente, estes são serviços tão imprescindíveis que nem paramos para pensar se as pessoas que os realizam estão fazendo o que realmente gostam. Então, a pergunta que fica: porque é tão importante fazer o que se gosta? Respondo: não é nem um pouco. Nem todo mundo tem a oportunidade e a sorte de encontrar uma profissão pela qual é apaixonado, que sempre sonhou. O que realmente importa é que possamos aprender a gostar do que fazemos, sermos os melhores nisso, porque sempre os que se destacam acabam sendo reconhecidos algum dia, e não seria de espantar se viessem a ser felizes, e fazendo exatamente o que sempre disseram que não gostam.
Como já li em um email, de autoria de Stephen Kanitz, um Administrador de Harvard, “se algo vale a pena ser feito na vida, vale a pena ser bem feito”. Hoje procuro fazer do meu trabalho o melhor, continuamente, chegando à beira da chatice, criticando as pessoas que me rodeiam para que prestem mais atenção aos detalhes, sejam mais caprichosas, e supervalorizando o aprimoramento contínuo, o que fez com que essas chatices do dia-a-dia tivessem um toque de perfeição e um gosto pessoal de satisfação.
Valorizar cada situação que pudesse desafiar a mim mesmo em busca de um resultado melhor, e a criação de um ambiente de trabalho agradável e amistoso faz com que eu consiga gostar das coisas chatas que tenho que fazer diariamente. Ao contrário, se detestasse meu trabalho e o fizesse sem vontade, tenho certeza que odiaria levantar da cama, odiaria chegar no trabalho, não aguentaria conviver com ninguém, nem comigo mesmo, porque nosso humor e qualidade de vida estão diretamente relacionados ao modo como encaramos as coisas que temos que fazer.
Assim, refletindo sobre tudo isso, só posso concluir que todos temos que procurar em nossa essência qualidades pessoais que possam auxiliar na otimização do trabalho que desenvolvemos, e que certamente possibilitarão nos diferenciar daqueles que não gostem do que fazem (e provavelmente o fazem mal feito). E quem sabe se um dia você for o melhor no que aprendeu a gostar de fazer, e for convidado exatamente por isso a fazer o que realmente goste, possa perceber que nem era tudo aquilo que pensava!

Um comentário:

  1. Cara, eu estava escrevendo pro meu blog sobre felicidade coisa e tal, mas deixei o texto um pouquinho em standby porque poderia ser mal interpretado ou ferir alguém desnecessariamente. Mas aí li teu blog – aliás parabéns pela iniciativa, escreves muito bem e verás que será um vício bom – bem, continuando, li teu blog e achei que o que havia começado poderia complementar, em parte, o que escreveste.

    O escritor John Powell diz que “As únicas pessoas realmente felizes são aquelas que encontraram uma meta na vida para amar e a qual se dedicar”. É preciso dedicação ao que fazemos.

    Filósofos e psicanalistas costumam dizer que “o homem é um eterno insatisfeito”. E eu digo: ainda bem. Devemos sempre procurar melhorar nosso trabalho, nossos relacionamentos, e nós mesmos. Mas para isso, é preciso, ao menos, nos conhecer. Sabermos do que não gostamos pode ser o princípio. Eu, por exemplo, fui descartando profissões que exigiam cálculos ou que iriam tratar de moléstias, doenças. Escolhi uma profissão um tanto por ideologia: queria ajudar a melhorar o mundo. Na real não consegui muita coisa, porque me deparei num impeditivo: não gostava de receber ordens sobre aquilo que discordava ou que contrariavam meus princípios. Parti para uma outra área, dentro de minha própria profissão.

    Li dia desses sobre um terapeuta, Viktor Frankl, que afirma que nos casos em que a profissão não traz plena felicidade, a culpa não é do ofício ou trabalho realizado, mas sim da pessoa que exerce.

    Não existe aquela frase de pára-choque de caminhão: “Não tenho tudo que amo, mas amo tudo que tenho”? Então, façamos nossas tarefas da melhor forma possível, pois é o suor do trabalho quem nos proporciona, na grande maioria das vezes, a possibilidade de fazermos o que gostamos: viajar, curtir balada, passar momentos com amigos...

    Desculpa, me empolguei e escrevi demais. Parabéns, de novo.

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