segunda-feira, 16 de novembro de 2009

SAIA DO ANONIMATO


Ainda não consegui encontrar uma razão para explicar o rebuliço que uma minissaia ou microvestido, o que seja, causou no país recentemente. Geisy Villa Nova Arruda, 20 anos, uma estudante da Universidade Bandeirantes de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, foi hostilizada veemente por seus colegas por “desfilar” pelos corredores da faculdade trajando um vestido muito curto. A estudante foi tão agredida verbalmente pelos demais estudantes, que teve de ser escoltada pela polícia para poder sair da sala de aula, inclusive ameaçada de estupro e outras aberrações, tendo que utilizar um jaleco emprestado por um dos professores, o que não obstaculizou os constantes xingamentos.
À evidência, vergonhosa a atitude dos alunos, e pior ainda a da Universidade que, após uma sindicância instaurada para apurar o acontecido naquele 22 de outubro, culminou por expulsar a estudante do seu corpo discente, e suspender alguns alunos que contribuíram para a algazarra. Em tempo, a direção daquela instituição de ensino voltou atrás, e tornou sem efeito a expulsão, o que gerou mais discussões sobre o fato.
Confesso que havia visto as imagens pela internet, e acreditei inicialmente que se tratava de uma montagem, uma farsa, mas que mesmo assim conseguiu provocar em mim uma indignação imediata, e cheguei a pensar em algo do gênero “brincadeira de mal gosto”. Infelizmente, alguns dias depois, vi que aquilo havia mesmo acontecido, e a notícia disseminou-se na imprensa do país, e, o que mais me impressionou, foi parar na mídia internacional.
A estudante virou celebridade, os alunos foram acusados de falsos moralistas e a diretoria da Universidade foi acusada de hipócrita. E o país parou por alguns dias e debruçou-se sobre um tema que não teria a menor repercussão em outros países, não mais do que uma reportagem de canto de página.
O Brasil é realmente um país engraçado. A educação pública prejudicada por falta de recursos financeiros, a falta de emprego para todos, os salários mínimos – mais mínimos do que qualquer minissaia ou vestido –, e a preocupação de todos agora é o tamanho de uma vestimenta e a sua adequação ao meio acadêmico. É óbvio que não estou desmerecendo a necessidade de se tomar providências para corrigir as injustiças porventura advindas de determinado preconceito ou conduta. O que questiono é apenas a dimensão que se deu ao assunto nesses últimos dias.
O debate abandonou a lógica e ultrapassou a evidente necessidade, chegando ao ponto que o povo brasileiro mais gosta: exposição pessoal na mídia. Não é de se duvidar que essa menina, a Geisy, venha a ser convidada a posar nua, já que se transformou numa celebridade da injustiça. Não é de se estranhar que fique famosa, mais do que já está, haja vista que não sai dos programas de auditório, e mais do que isso, da boca do povo. Não ficaria espantado nem ao menos se recebesse convites para fazer filmes. Só questiono se com todo o estudo acadêmico, ela viesse a alcançar algum emprego que pagasse tanto quanto ela poderá receber com toda essa fama!!!

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