domingo, 29 de abril de 2012

INSENSATEZ

Lá vai um poesia que escrevi há alguns anos, mas que pode servir pra ajudar a entender o que não se explica...

Ela vem devagar, quase sem querer. 
Sem sentir, sem sofrer, quase sem falar, vem calada.
Tem a força do que é, sem precisar ser. 
É um nada, um vazio incompleto; é um tudo, imerso e repleto.
Calor dos homens, amor sem nomes... é paixão!!!


Tudo o que compreendemos, ou que pensamos que assim seja, não refletem a sua real essência. 
Aquele suspiro, desejo, 
O gosto de um beijo, 
O cheiro, malícia no ar, 
O tremor de um toque, 
O calor de um olhar, 
Palavras sem pudor, que não exigem retoque, que tem uma mira certeira, e causam furor.
Frases desconexas que erram, por medo de não conseguir acertar.
Ideias que levam ao êxtase, catarse que surge quando menos se podia esperar.
Tudo isso, e só isso, revelam a mais enlouquecida certeza: é paixão!!!

quarta-feira, 14 de março de 2012

AS CARTOMANTES (Parte 1)


O casamento de Raul e Ana estava com os dias contados. Havia adquirido o hábido de ficar até tarde no trabalho só para não ter que chegar cedo em casa e discutir com a mulher, ouvir ela dizendo que não aguentava mais, que ele precisava mudar, que tinha que achar um emprego melhor, que deviam procurar um terapeuta, que isso e aquilo. Na verdade, ele não aguentava era a insatisfação constante. Até já estava se convencendo de que o casamento não tinha mais jeito, e de que o melhor era por um ponto final. Só não tinha certeza disso, porque ainda gostava da vida que levava ao lado dela, do carinho que sentia por Ana.
Numa certa tarde, ouviu Nara, uma colega do escritório, comentando com Beto, seu amigo e também colega, que tinha conhecido uma cartomante sensacional. Fez um relato minucioso das previsões e apontou diversas situações em que a vidente havia acertado o seu passado. E ouviu ela concluir a conversa com um tom emocionado:
- Sinto que sou outra pessoa! Começo a ver uma luz no fim do túnel...
Beto virou-se para Raul com um certo olhar de deboche e, em resposta, limitou-se a resmungar um "que bom!", e voltou a trabalhar. Durante toda a tarde, Raul não parava de pensar no que havia ouvido, e, ao final do expediente, quando Nara foi embora, chamou o colega:
- Beto, o que você acha de marcar uma hora com ela.
- Com ela quem?
- A cartomante.
- Você tá louco? Essas pessoas são estelionatárias e não dizem nada que preste. Se acertam alguma coisa, saem no lucro. No mais, só servem pra enganar trouxas!
- Mas é que...
- Não tem essa história de mas... não vou e está encerrado!
- Cara, sério, não custa matar a curiosidade. Eu pago pra você também!
Depois de uns minutos de insistência, Beto concordou, afinal de contas não ia sair do bolso dele o valor daquilo que ele chamava de "perda de tempo". Ligou para Nara, anotou o telefone, e em poucos minutos já haviam agendado um horário com a cartomante para a semana seguinte.
Chegado o dia, antes de ir para o trabalho, foram à casa da vidente. Ela mesma abriu a porta, e indicou um sofá na sala para que um deles sentasse, enquanto o outro seria atendido. Raul foi o primeiro.
Sentado numa cadeira na mesa da cozinha, ficou um pouco decepcionado, pois o lugar não possuía a aura de mistério que imaginava. Os únicos detalhes que denunciavam o local era um incenso que fora acendido e posicionado sobre a mesa e um baralho de cartas de tarô muito velho, o qual Leonora embaralhara e pedira para ele cortar.
Depois de algumas informações, as quais ele considerou inúteis, ela disse:
- Vamos falar de aspectos da vida pessoal. Quanto ao seu relacionamento, presumo que não esteja bem.
Ele, um pouco desconfiado, perguntou:
- Você... você está vendo isso nas cartas?
- Na verdade, foi você quem me disse há uma semana atrás, por telefone.
- Ah, é verdade - respondeu, um pouco decepcionado.
- Pois bem, vamos lá... hummm... olhe essa carta! Ela diz que alguém aparecerá em sua vida muito em breve.
- Breve quando? Eu ainda vou estar casado?
- Muito em breve... antes que você possa esperar.
- Mas como, eu não quero trair minha mulher.
- Raul - disse Leonora, segurando as mãos dele, e olhando-o fixamente. - Você sente falta de algo, de uma emoção, de um beijo capaz de tirar o fôlego, de te levantar do chão, e é isso que está faltando em seu casamento. Empolgação, vida!!! Pois bem, essa pessoa que vejo é morena, olhos claros, e não é da Capital.
- Tudo bem, mas eu não conheço ninguém com essas características, não estou interessado em ninguém, eu amo minha mulher, e...
Nesse instante, o telefone tocou. Ela pediu licença e atendeu. Raul ficou ouvindo desinteressado a conversa de Leonora com uma pessoa que ao final do telefonema identificou-se como Ana, o mesmo nome de sua esposa. Ela insistia que precisava ser atendida, e a cartomante dizia que não tinha horário naquela manhã.
- Está bem, vou abrir uma exceção, Ana. Meio-dia então! - e desligou o telefone, pedindo desculpas a ele.
E continuou:
- Onde eu estava... ah, sim... então, você conhecerá alguém e essa pessoa irá mexer com sua vida!
Conversaram mais um pouco sobre isso, pagou a consulta, e dirigiu-se à sala. Lá chegando, o amigo viu no rosto de Raul a decepção. Pensou em dizer, "eu avisei", mas preferiu sorrir com um ar de deboche. Era a sua vez de ser atendido.
Raul, sozinho na sala, pegou uma revista e ficou aguardando. Minutos depois, a campanhia tocou. Ele aguardou uns instantes, e como ninguém atendeu, decidiu abrir a porta. Uma jovem alta e bonita entrou na sala, falando que era Ana, e que havia marcado uma consulta. Ele disse para ela esperar na sala, explicou também ser um cliente, e que Leonora estava atendendo. Sentaram-se um de frente para o outro, cada qual em um sofá. Volta e meia ele esticava os olhos e a observava, sem muito interesse. De repente, ela levantou-se, tirou os óculos escuros e a jaqueta, e ele ficou extasiado com o corpo de Ana, que vestia uma roupa de ginástica delineando cada parte do seu corpo. A cor de seus olhos era de um azul vivo e o cabelo escuro contrastava, de uma forma intensa, a energia juvenil daquela mulher. Não conseguindo se conter, conversou de forma animada com ela, falaram sobre música, viagens, e outros assuntos, o que fez com que a hora passasse rapidamente. Perto do meio-dia, Leonora entrou na sala com Beto, e todos se despediram. Na saída, Raul olhou para trás e percebeu que a jovem também o observava. Ficou envergonhado!
No caminho para o trabalho, conversaram sobre a cartomante, e Beto só reclamava. Dizia que tinha perdido uma hora de sua vida graças à insistência do amigo. Raul, a seu turno, confidenciou a ele o que Leonora havia dito sobre a morena de olhos claros que apareceria em sua vida.
- Beto, pode ser ela. Aquela moça que estava na sala comigo!!!
- Sim, agora você vai começar a achar que toda mulher que tiver olhos claros e cabelos escuros quer dar pra você! Por favor!!!
- Mas é que... ah, não sei, acho que você tem razão! É loucura da minha cabeça...
Foram almoçar num restaurante próximo ao escritório, e quando estavam pagando a conta, o celular de Raul tocou:
- Alô, Raul?
- Sim, quem fala?
- É a Ana, a gente se conheceu na cartomante.

CONTINUA...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

AS CARTOMANTES (Parte 2)

Foram almoçar num restaurante próximo ao escritório, e quando estavam pagando a conta, o celular de Raul tocou:

- Alô, Raul?

- Sim, quem fala?

- É a Ana, a gente se conheceu na cartomante.

Sentiu um calor subindo até o rosto, e o coração pulsava sem parar. E disse:

- Como você... – engoliu a saliva, e prosseguiu: - Como você conseguiu meu telefone?

- Ai, desculpa... primeiro, queria dizer que a Leonora não tem culpa de nada. Depois da minha consulta, fiquei insistindo, e fui tão chata com ela, que acabou concordando em dar o número do teu telefone para mim. Olha, ela disse que ia ligar para te avisar, mas eu não aguentei, e acabei ligando antes. Desculpa mesmo. Mas, por favor, deixa eu explicar: é que depois que te vi, confesso que não conseguia parar de pensar na nossa conversa, em ti, enfim, quase nem prestei atenção na consulta, até a hora em que ouvi a Leonora dizer que eu havia conhecido recentemente um homem que mudaria minha vida. Sei lá, fiquei desnorteada, perguntei se poderia ser você, e ela disse que não sabia. Bem, o fato é que senti que queria te conhecer melhor, queria te ver de novo e... ai, desculpa, não consigo parar de falar, não é?

Raul, ainda atônito, e sem saber o que dizer, limitou-se a balbuciar alguma coisa ininteligível, e ela continuou:

- Bem, não sou acostumada a fazer isso, mas eu queria saber se a gente podia sair para conversar um pouco. O que você acha?

Sem pensar direito, concordou com o convite, esquecendo-se completamente de sua Ana. E ela acrescentou:

- Que tal hoje? Pode ser hoje à noite?

- Hoje? Não sei, é complicado, eu...

E ficou mudo, sem saber o que dizer. Ela completou:

- Já entendi. Você é casado!?

Um silêncio constrangedor se fez presente durante a ligação, até que Raul decidiu responder, num tom lamurioso:

- Sim, eu sou!

- Então, desculpa. Não vou te incomodar.

- Não, espera! Acho que a gente precisa mesmo conversar. Tenho algumas coisas pra te dizer, e gostaria de ouvir outras de ti. Vamos fazer o seguinte, eu saio do meu trabalho no final do dia, e a gente combina de se encontrar em algum lugar. Só não vou poder te convidar pra jantar. Espero que você entenda.

Ela pensou um pouco, e acabou concordando. Marcaram em um bar longe de sua casa, e próximo da academia dela. Raul viu que Beto o observava, mas decidiu não falar nada para o amigo. Não queria ouvir as suas indagações irônicas, e, quando ele perguntou quem era, limitou-se a responder:

- Ninguém importante. Apenas um cliente.

Ao sair do trabalho, ficou excitado com a expectativa do encontro secreto, e decidiu comprar preservativos; sentia que deveria estar preparado pra tudo. E divertiu-se com seus pensamentos. Lembrava que não os usava há alguns anos, e sentiu-se envergonhado quando saiu da farmácia com o pacote nas mãos, abrindo-o, e colocando uma das camisinhas em sua carteira.

Quando chegou ao encontro e a viu, percebeu que ela ainda trajava a roupa de academia que o havia enlouquecido naquela manhã. Como era linda! Raul notou que era mais alta do que pensava, quase tanto quanto ele. Falaram sobre o que Leonora havia mencionado em cada uma das consultas, da coincidência de seu encontro, e do quanto se impressionaram um com o outro. O tempo passou, e quando, finalmente, ele resolveu ir embora, ela insistiu para que ficasse mais um pouco. Eram quase nove horas da noite, e lembrou ter dito à esposa que iria passar na casa de um amigo antes de voltar para casa. Decidiu ficar alguns minutos a mais, mas teve medo de encontrar algum conhecido, até que Ana sugeriu fossem para o carro dela, o qual possuía uma película escura nos vidros, impedindo que as pessoas que passassem pudessem vê-los lá dentro.

Pagaram a conta e dirigiram-se para o automóvel. Logo que as portas se fecharam os dois abraçaram-se e beijaram-se de uma forma passional, irresistível, um beijo longo, molhado e cheio de desejo. Ele sentia um cheiro doce de canela que vinha da boca daquela menina que mal conhecia, e lembrou-se que há muito tempo não sentia algo igual por sua Ana. Tentou desvencilhar-se dela, mas não conseguia. Em realidade, não queria. Precisava daquele beijo... precisava de mais. Desceu a mão direita até a altura da cintura da jovem, e sentiu a firmeza de sua barriga, a curva de sua cintura. Sabia que estava a um passo de ultrapassar o limite do que entendia ser possível controlar, quando, sem pensar, enfiou sua mão no meio das pernas de Ana, que, energicamente, parou de beijá-lo, e o repeliu. Quando olhou para ela, apesar da penumbra, pôde perceber a vermelhidão em seu rosto, a respiração ofegante, e o desejo que emanava dela.

Sem perceberem, já estavam novamente abraçados, beijando-se de uma forma explosiva, só que dessa vez foi ela quem tomou a iniciativa, e começou a alisar o corpo de Raul. Apertava os braços dele, sentindo seus músculos, e deslizando as mãos para as suas costas. Foi quando percebeu que ela autorizara qualquer investida dele. Olhou para fora, e não viu ninguém. Em poucos minutos estavam sem as roupas. Ela subiu sobre ele, que tentava se desvencilhar para procurar um preservativo naquela escuridão, tateando a sua volta à procura da carteira; no entanto, já sentia que a penetrava. Ela o agarrava com força, arranhava suas costas, e dizia que ele seria o homem de sua vida, que estava apaixonada, e, mesmo não o conhecendo direito, já o amava. E sussurrou: - "Ai Raul, eu quero ter um filho com você...".

Ao ouvir isso, ele a afastou, completamente apavorado. E pensou: “Que doente! Um filho?!”. O que estava fazendo? Não, não queria que fosse assim. E ela parecia cada vez mais descontrolada, voltando a escalar seu corpo, envolvendo-o com as pernas que o apertavam pelas costas naquele lugar minúsculo. Mal conseguia se mover. Então, não vendo outra alternativa senão afastá-la, empurrou-a violentamente, e gritou com ela:

- Pare!!! Você está louca!

No mesmo instante, ela o olhou com raiva, e sem que pudesse defender-se, sentiu um violento tapa no rosto. Decidiu não revidar, apenas segurar as mãos de Ana.

Em questão de segundos, olhou para fora do automóvel, e viu algo que o deixou apavorado.

CONTINUA...