segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

MAIS UMA RECEITA DE ANO NOVO


Para que seu Ano Novo seja realmente novo, lindo como o arco-íris, ou entusiasmante como o calor do sol. Para que você comece o seu novo ano, não apenas remendado e chamado de “novo”, mas novo na esperança, no sorriso de uma criança que nasce, e explosivo como a lágrima da mãe que o abraça. Para você, que sabe receber novos abraços, ou mesmo os velhos, que são tão bons quanto os novos. Enfim, para você que ama a vida, esse elemento tão simples que se resume em apenas quatro letras, que de tão perfeita nem se nota, não é preciso lembrar-se das marcas causadas pelas dores passadas, nem recordar-se de momentos vazios, e arrepender-se de não tê-los preenchido. Não é necessário correr atrás do amanhã, e determinar-se: - Quando o janeiro chegar as coisas vão mudar! Não, não é nada disso...
Para ter-se um ano-novo, que realmente mereça este nome, basta que você o queira assim, e batalhe por mudanças, por aquilo que você quer, mas tente, experimente, invente. Cresça por pensar que não podia, e pode! Olhe-se e sinta aquela mudança interior, aquele friozinho na barriga, e permita-se aceitar. Quando isso tudo acontecer, lembre-se de mim, e simplesmente sinta meu beijo e um abraço bem apertado.
Feliz Natal e Próspero Ano Novo,
Artur.
Inspirado em "Receita de Ano Novo" de Carlos Drummond de Andrade.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

NEM TUDO QUE É LUXO É LIXO


Nunca entendi direito como é que as pessoas avaliam as coisas e colocam nelas uma medida de valor extremamente alta, uma apreciação econômica que, por vezes, chega a atingir preços inimagináveis. Não tenho dúvida de que ligado a isso está uma induvidosa campanha de marketing promovida pela mídia, e por aí vai. Em realidade, o valor intrínseco das coisas não é medido somente pela qualidade, senão não teríamos tanta porcaria sendo vendida em escala diametralmente oposta ao que realmente valem.
Não me interprete mal, porque aqui não estou me referindo a sociedades capitalistas, a mercados financeiros, tampouco falo sobre questões sociológicas, do tipo “tanta gente morrendo de fome e as pessoas gastando rios de dinheiro com isso ou com aquilo”. Não. Refiro-me a coisas que em outra época ou lugar, de fato, não teriam o menor valor; falo, por exemplo, de roupas de grife ou qualquer outro produto que venha a ser comercializado com um valor extremamente alto se comparado com outras coisas da mesma espécie, às vezes até que possuem a mesma qualidade.
A própria cultura, uma representação teleológica da arte, que é uma abstração, também é valorizada pelo fato de ter um valor econômico, ou seja, se vale mais, mais vale ser apreciada, mesmo que tenhamos a consciência de que nem tudo que seja caro é realmente o melhor. E é exatamente sobre esse produto de consumo, por que é isso que o mercado da arte representa para muitos, que vou tecer alguns comentários.
Resolvi falar sobre isso porque recebi um vídeo de uma experiência realizada pelo jornal “The Washington Post” num metrô de Nova York, em que um homem de camiseta e boné começa a tocar um violino para as pessoas que passam, durante aproximadamente 45 minutos, e praticamente ninguém imagina o que está acontecendo, quase ninguém para e aprecia o verdadeiro presente que estão recebendo, ou seja, não percebem o valor do que estão ouvindo, a exceção de uma mulher que, ao final, inclusive reconhece o artista.
É possível que nem todos admirem a arte, em qualquer de suas acepções, apesar de eu ainda não entender como, porque a cultura mede algumas questões primordiais em relação a um país, como a educação. Há até aqueles que nem gostem muito de arte, seja sob a forma que vier. Na verdade, como tudo na vida, há sempre aqueles que são contra, simplesmente. Mas é indiscutível que a arte tem o seu preço. O que questiono é se percebemos isso naturalmente ou se somos guiados a apreciá-la por padrões que nos são impostos, uma valorização que talvez nem exista. Por exemplo, imagine uma obra de um pintor pouco conhecido, mas que acabe sendo confundida como um quadro de Michelângelo, e avaliada em alguns de milhões de dólares. Indubitavelmente, chamaria a atenção dos meios de comunicação, e que, por conseqüência, a ela seria atribuído um valor realmente expressivo, acarretando um interesse acima da média, inclusive daqueles menos adeptos à arte renascentista.
Pois bem. Aquele homem no metrô era nada mais, nada menos, do que Joshua Bell, e para quem não o conhece, é considerado um dos maiores violinistas do mundo, e basta acessar qualquer vídeo dele no YouTube para se ter certeza disso. No metrô, ele estava tocando um instrumento raríssimo, um “Stradivarius” de 1713, avaliado em aproximadamente 03 (três) milhões de dólares, e em seu repertório, alguns dos maiores clássicos da humanidade. Dias antes havia tocado no Symphony Hall, de Boston, em que alguns dos melhores lugares chegavam a custar mil dólares. Concluiu-se, por óbvio, que as coisas somente são valorizadas dentro de um contexto.
De minha parte, acredito que se deve entender isso da seguinte forma. Ao lado deste contexto, ou mais precisamente antes dele, há uma questão conceitual, uma valorização pactuada, e que, ao final, acaba sempre sendo traduzida em números. Digo isso porque, não obstante a qualidade da arte desempenhada por Joshua – o que me parece indiscutível –, o seu valor acaba sempre sendo refletido através da ótica daqueles que vão lucrar com isso, e por isso é inegável o esforço para agregar uma contextualização perfeita, uma sintonia o mais adequada possível para que o artista venha a ser reconhecido como o melhor, e para que se possa cobrar caro por isso.
Dessa forma, cabe a mim tirar uma única conclusão: aquele artista, supostamente anônimo, poderia ser considerado uma pintura de renome sem moldura, um artefato de luxo sem grife, e é exatamente por isso que tudo aquilo que não tem uma etiqueta nos indicando o seu devido valor, ou por uma falta de apreciação valorativa pessoal, muitas vezes acaba indo parar na lixeira.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

À ALGUÉM QUE AINDA NÃO CONHEÇO

"Somos feitos da mesma matéria que nossos sonhos."
William Shakespeare
Escrevo essa carta para você, que tem uma importância mais do que especial na minha vida, mas que ainda não conheço. Você que tem um significado abstrato, um desejo idealizado, porque ainda não convivemos, não criamos um vínculo, não começamos a escrever nossa história, e já sinto saudades dos momentos que não estamos juntos.
Os dias até podem ter a velocidade do tempo, mas um período sem ti é aquele que não passa, é lento, um vazio inominado, e aguardar quieto, calado, é quase um castigo. Tenho medo do tempo simplesmente passar e a gente acabar se perdendo, e nunca realmente se encontrar.
Sei que nossas escolhas indicam o significado que a vida terá no futuro, os motivos que levarão a tristeza pra bem longe, e os desejos que trarão nosso sorriso. Queria que esse meu sorriso fosse teu, que o teu olhar fosse meu, que tivéssemos estabelecido perspectivas de nosso destino, enfim, que fôssemos um só. Mas como posso estar certo de que seríamos felizes juntos se ainda não te conheço!? Pois é, tenho a convicção de que sim, e se porventura esquecer de dizer algum dia, aproveito e digo agora: é uma estranha sensação que chega a ser uma certeza!
Por instantes pensei ter te visto, sentido teu gosto e ficado paralisado com a vibração dos teus olhos. É que sonhei com detalhes sobre uma noite em que estávamos num deck qualquer, de onde víamos toda a cidade, um silêncio penetrante, constante, simplesmente nós, um homem e uma mulher. Tenho certeza de que éramos nós, pois os sonhos aproximavam-se da realidade, e depois de acordar não lembrava, pois como podia querer amar sem parar, quando tudo sempre mudava.
Quero que saibas que o caminho entre eu e você é uma linha tênue entre ser ou não ser. Quero que tenhas a consciência de que o amanhã é logo ali, e eu estarei lá te esperando. Quero que os teus dias até me encontrar sejam muito felizes, porque eu vou estar radiante por ter a certeza de que você vai chegar. Enfim, à você que pensa ainda não fazer parte da minha vida, saiba que já faz...

domingo, 6 de dezembro de 2009

POR QUE CHAMAM DE EVOLUÇÃO?

Não é possível como as coisas ainda acontecem assim após anos de "evolução".
Se parássemos pra pensar, ninguém conseguiria parar de chorar.
Só posso pedir pra não deixarem de ver o vídeo abaixo.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

UM VELHO RIVAL


Eram irmãos, mas já implicavam um com o outro desde criança, competindo por qualquer coisa. Ernesto e Geraldo, na verdade, valorizavam essa rivalidade, e diziam até que isso servia de incentivo para serem os melhores. Geraldo, por ter nascido antes, sempre ouvira dos pais a obrigação de cuidar do caçula, mas também sempre se aproveitava disso para impor ao irmão que o respeitasse, afinal de contas era o mais velho. Brigavam por qualquer coisa, desde um brinquedo que um havia ganho de aniversário e o outro não, até por coisas mais delicadas, como na adolescência, quando começaram a disputa por namoradas.
Quando adultos, resolveram morar sozinhos. Ernesto, por gostar muito das paisagens de Porto Alegre, em especial a do pôr do sol do Rio Guaíba, fixou residência próximo à Zona Sul da cidade. O outro decidiu que iria morar bem longe do irmão, de preferência na Zona Norte, mas por se sentir responsável por ele, e por ter feito uma promessa aos seus pais de que iria cuidá-lo sempre, acabou comprando um quitinete na Azenha. E pensava: “nem tão longe para que eu possa ficar de olho, nem tão perto para que ele possa vir me visitar a qualquer hora”.
Por coincidência do destino, ou não, ambos começaram a trabalhar com publicidade, e cada qual havia montado a sua própria agência. Consideradas as melhores do Estado, a cada ano competiam entre eles, e com outras agências do país, no intuito de mostrar que possuíam um diferencial, as melhores idéias, os melhores profissionais do mercado. Mas a competição era tanta, que às vezes chegavam a ajudar outras empresas do ramo só para ter a satisfação de ver o irmão “quase” levar o prêmio.
Nesse ano, isso se repetiu. Desde o início, Ernesto era considerado o favorito, e isso era evidenciado a cada mês, quando apresentava os seus trabalhos com tamanha dedicação que sempre acabava atingindo excelentes resultados. Por consequência, era praticamente questão de tempo para que lhe entregassem o prêmio, e isso iria ser também uma vitória para seus clientes, que sempre acreditaram no trabalho de sua agência, e reconheciam nela uma empresa sólida e com anos de experiência no mercado.
Acontece que as coisas começaram a não dar tão certo, os funcionários foram ficando relapsos, e o próprio Ernesto já não andava tão atento ao trabalho, até que uma empresa carioca, que não representava nenhum risco, decidiu contratar dois profissionais de renome, e começou a apresentar resultados supreendentes.
Mas havia uma saída. A ajuda de Geraldo poderia ser fundamental para que o prêmio viesse parar nas mãos da empresa de Ernesto. Certamente isso não seria fácil, inclusive porque a empresa daquele, não obstante o sucesso do passado, estava passando por sérias dificuldades, sem olvidar da rivalidade que sempre imperou na relação de ambos.
Nesta perspectiva, todos se perguntavam: Geraldo estaria disposto a abrir mão dessa antiga animosidade, e pôr fim a um embate que já durava uma vida inteira?! A resposta viria num domingo ensolarado, quando Geraldo foi até o Rio de Janeiro apresentar um trabalho feito por seus funcionários. No caminho, durante o vôo, seus pensamentos retornaram ao passado, e lembrou-se de todos aqueles momentos em que dependeu da ajuda do irmão. Tinha consciência de suas limitações, mas sabia que com algum esforço tudo poderia mudar, e o prêmio ficar em família.
“Em família, que ridículo!”, pensou ele.
Finalmente decidiu-se. Não prejudicaria Ernesto, afinal de contas era seu irmão. E concluiu, pensando em voz alta, sentindo-se livre da promessa feita aos pais: “Ah, mas ele já é bem grandinho, e sabe se cuidar!”
Durante a reunião, o projeto foi apresentado a um grande cliente, que se impressionou com os detalhes e o esforço empreendido, mas não viu a possibilidade de grandes resultados, pois não era o que o mercado necessitava. Optando pelo projeto daquela grande empresa carioca, dispensou a de Geraldo, que retornou a Porto Alegre pouco satisfeito com a derrota, mas com um leve sorriso nos lábios.
No mesmo dia, o Flamengo venceu o Grêmio por 2 x 1, e sagrou-se Campeão do Brasileirão. O Internacional ficou com o vice-campeonato, e com uma lição: apesar do profissionalismo das equipes, sempre haverá espaço para o deboche.